“Ame ao próximo como a ti mesmo.”
A compressão desta frase esta na base do que o homem chama de destino. Não porque tenha sido, provavelmente, dita por Jesus, mas porque é lógica e racional. Não é preciso ser divino para, depois de pensar um pouco, concluir que se não é bom para o próximo também não é bom para você. Mas essa frase carrega um outro sentido que é pouco entendido. O sentido da propagação da ação, da continuidade, da sequência de atitudes e principalmente da causalidade.
Quando pensamos em não desejar ao próximo o que não queremos para nós mesmos, não percebemos a noção de tempo contínuo que essa ação propõe. Geralmente associamos a uma ação pontual, aqui e ali, que praticamos em relação às pessoas próximas de nós. Mas esquecemos do efeito contínuo e da causalidade desta ação. A ação que praticamos agora se propaga continuamente de indivíduo para indivíduo, podendo seu efeito retornar para você ou para outra pessoa, hoje ou no futuro.
Imagine que durante o seu dia você encontra alguém precisando de ajuda. Você decide ajudar. Fazendo isso, você marcou essa pessoa com uma experiência positiva e em algum momento da vida dela ela poderá, lembrando-se do que lhe ocorreu, ajudar alguém em situação semelhante. Pode ser que ela apenas passe aquela experiência adiante em forma de lição de vida para um pessoa mais nova, talvez seu filho. Neste caso a lição passará para uma pessoa de outra geração que poderá algum dia ajudar alguém ou mesmo você mais velho.
Agora imagine que você, ao contrário, decide não ajudar. A lógica se aplica da mesma forma e a causa dessa ação vai marcar alguém com uma experiência negativa, propagando esse efeito, fazendo-o retornar para você ou para outra pessoa hoje ou no futuro. Pode ser que esse efeito pule algumas gerações e talvez não volte para uma pessoa que você conheça, mas é certo que o efeito voltará para alguém.
É difícil perceber a relação de causa e efeito ao longo do tempo, mas que ela existe, quanto a isso não há dúvida. Você testemunha uma ação, boa ou má, que ocorre próxima de você, mas nunca imagina que essa ação poderia ser um efeito de uma ação sua, causada no passado, que se propagou ao longo do tempo.
Agora imagine por um segundo, como seria sua vida hoje se seus antepassados tivessem consciência da causalidade de suas ações e só praticassem boas ações em suas vidas. Imaginou? Então não pare por aí. Imagine agora como seria a vida dos seus descendentes se todas as pessoas hoje só tivessem ações boas, umas com as outras. Pronto! Alcançamos o “paraíso” na terra.
É esse o sentido "lógico e racional" por trás dessa mensagem; “Ame o próximo como a ti mesmo”, e não tem nada de fabuloso, profético ou sobrenatural nisso. Apenas razão.
Já vimos que o mal que bate à sua porta em forma de ações praticadas por outras pessoas tem origem nas más ações propagadas de pessoa para pessoa e de tempos em tempos. Em resumo, tem origem no próprio homem. Mas quanto às doenças que acometem o mundo, isso não é um mal? Qual a sua origem?
Para entender essa questão precisamos lembrar da história do homem. Sabemos que nossa espécie, o homo sapiens, existe há pelo menos 300 mil anos. Durante a maior parte desse tempo, uns 290 mil anos, sobrevivemos caçando outros animais e coletando plantas. Obviamente éramos nômades, afinal não podíamos esperar que os animais e as plantas viessem bater na nossa porta, então nos movemos de um lugar para o outro em busca de comida. Em cada lugar que parávamos por um breve tempo, deixávamos para trás nossos dejetos, restos dos animais e plantas que comíamos. Desta forma, durante 290 mil anos, não mantivemos contato prolongado com vermes, micróbios e bactérias, e também não transformávamos o meio ambiente pelo qual passamos.
Mas há uns 10 mil anos atrás, tudo mudou. Descobrimos a agricultura e passamos a permanecer longos períodos de tempo nos lugares de cultivo, acumulando dejetos e restos de animais e plantas que comíamos. Micróbios e bactérias agora eram nossos vizinhos e compartilhávamos com eles a transformação do meio ambiente à nossa volta. De lá para cá, apenas incrementamos essa relação estendendo as áreas de cultivo e de criação de animais, gerando um ciclo vicioso de compartilhamento e transformação do meio ambiente com todo tipo de seres invisíveis a olho nú.
O primeiro registro do uso de defensivos agrícolas é datado de 4.500 anos pelos sumérios, então tivemos mais de 5.000 anos entre o início da agricultura e o uso de algum tipo de defensivo para nos proteger dos efeitos colaterais de nossa evolução de caçadores-coletores para agricultores. Além do que, não sabemos ao certo, que tipo de transformação em nós e no meio ambiente o uso de defensivos agrícolas mal elaborados causou e está causando em nossas vidas. Pare um pouco e pense. São aproximadamente 5.000 anos de agricultura primitiva e mais 4.500 anos de uso venenos até chegar aos dias de hoje.
Novamente aqui é difícil para nós percebermos o efeito contínuo ao longo do tempo sobre nossas vidas. Vamos ao supermercado para comprar cenouras e é fácil encontrá-las diariamente, graúdas e vistosas. Mas as cenouras nem sempre foram assim. Pesquise no Google sobre cenouras selvagens e terá uma noção muito próxima do ancestral da sua suculenta cenoura do dia a dia. E depois, lembre-se de porque e como ela evoluiu ao longo dos últimos 10.000 anos. Hoje comemos centenas de alimentos modificados geneticamente que, aparentemente, não fazem mal algum. Mas isso é hoje. O que são os últimos 100 anos de tecnologia aplicada à agropecuária comparados aos 10.000 anos de erros e acertos da humanidade.
O que matava os homo sapiens há 300.000 anos eram; a falta de alimento, acidentes fatais, lutas com outras espécies e a velhice. O que mata os homo sapiens hoje?
Doenças surgiram e evoluíram a partir da transformação do homem e de seu meio ambiente pelo próprio homem. Não há nada de sobrenatural novamente aqui. Somos produto de nossas próprias ações propagadas continuamente por milhares de anos de existência. Deus não enviou pragas e nem nunca enviará. Em nossa ignorância primitiva, escolhemos fazer tudo aquilo que nos trouxe até aqui. Mas não precisa ser assim daqui para frente. A razão pode guiar o ser humano pela conscientização lógica e racional de seu envolvimento em todo mal que existe e nos ajudar a alcançar o “paraíso”.
Livre-se das crendices e tabus que impedem o seu entendimento e estará um passo mais perto de Deus.
"Todo o homem é culpado do bem que não fez."
Voltaire
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