Por que pessoas aparentemente inteligentes agem com estupidez em alguns casos?
Por que, mesmo diante de evidências claras, algumas pessoas continuam a acreditar em coisas irracionais?
Por que as pessoas resistem à razão e ao bom senso?
Será que a estupidez não é cultural e fisiológica?
Foi refletindo sobre essas questões que o filósofo e teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer desenvolveu a Teoria da Estupidez, publicada em seu livro “Resistência e Submissão” enquanto estava preso durante a segunda guerra mundial, sob o regime nazista.
Bonhoeffer ficou profundamente inconformado com o fato de uma sociedade desenvolvida, culta e educada, como a alemã, ter sido capaz de sucumbir às ideias irracionais de Adolf Hitler. Em seu cárcere, ele refletiu sobre a natureza humana e conjecturou que a estupidez talvez não fosse uma característica cultural e individual, mas sim uma condição moral e social. Percebendo que pessoas aparentemente inteligentes poderiam se tornar estúpidas quando submetidas a ideologias de massa, Bonhoeffer compreendeu que a estupidez era um fenômeno perigoso e muito difícil de combater.
De acordo com essa teoria, quando as pessoas perdem a capacidade de criticar e refletir livremente, surge um ambiente propício para a estupidez, e isso é muito perigoso porque é impossível de ser enfrentado. Uma pessoa ignorante pode se tornar inteligente e uma pessoa má pode ser combatida, mas uma pessoa estúpida é imune a qualquer dessas formas de correção. Uma pessoa estúpida está tão convencida de suas ideias, que é impermeável a qualquer forma de crítica ou evidência contrária. Esse tipo de pessoa não é apenas irracional, mas também incapaz de reconhecer sua própria irracionalidade.
“Toda vez que você se encontrar do lado da maioria, é hora de parar e refletir.”
Mark Twain
Em uma sociedade passiva e conformista, que deixa de pensar de forma independente e se submete às expectativas do grupo, a estupidez pode ser ainda mais potencializada pelo surgimento de um líder carismático. Essa sociedade pode ser desencorajada a questionar e a obedecer cegamente um ideal proposto pelo líder. Bonhoeffer também argumenta que a melhor forma de evitar a estupidez é cultivar a capacidade crítica de cada indivíduo, permitindo que ele resista à pressão da conformidade. Uma sociedade que valoriza a reflexão crítica e o debate aberto tende a produzir cidadãos mais resistentes à estupidez e moralmente responsáveis.
“Se 5 bilhões de pessoas acreditam em uma coisa estúpida, ela continua sendo estúpida.”
Anatole France
A teoria também propõe que cada indivíduo deve ter coragem em se opor à estupidez, se esforçando para disseminar o livre pensamento e o uso da razão acima de tudo. Isso significa questionar nossas próprias suposições e estar abertos a mudar de opinião à luz de novas evidências. Bonhoeffer acreditava que a fé religiosa também poderia ser uma força contra a estupidez, desde que não fosse dogmática. Para ele, a verdadeira fé envolve uma busca constante pela verdade e uma disposição para questionar até mesmo as próprias crenças religiosas. Enfrentar a estupidez exige coragem moral e uma disposição para defender a verdade, mesmo quando isso é impopular ou perigoso.
“É dever de todo homem, na medida em que sua capacidade permitir, detectar e expor a ilusão e o erro.”
Thomas Paine
Conhecendo as causas da estupidez e estando cientes do perigo de não evitá-la, devemos adotar medidas para mitigá-la em nossas vidas e na nossa sociedade. Devemos estar dispostos a questionar nossas próprias suposições e a mudar de opinião, sempre que reconhecermos nossos próprios preconceitos e limitações. A reflexão sobre a estupidez é um chamado para a ação e precisamos ser vigilantes e corajosos para dizer não diante das forças que promovem a irracionalidade e a conformidade.
“O sábio pode mudar de opinião. O ignorante, nunca.”
Immanuel Kant
Dietrich Bonhoeffer morreu enforcado semanas antes da derrota do nazismo com o suicídio de Hitler, mas nos deixou um legado importante. Uma teoria que se aplica, não só a política totalitarista, mas também a religião que subverte pela disseminação de mitos e lendas supersticiosas.
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