Muito já se falou sobre isso. Há quem diga que são compatíveis e até complementares. Existem cientistas religiosos e alguns poucos religiosos que são cientistas. Os que defendem esse elo entre ciência e religião, geralmente citam esses exemplos como argumento. O grupo que tem mais necessidade de reforçar esse elo é o dos religiosos. É comum ver clérigos enaltecer a ciência, mas é muito raro ver um cientista defendendo a religião.
Até existe na Wikipédia uma lista de clérigos católicos que contribuíram com o desenvolvimento da ciência. Observando mais atentamente essa lista, verifica-se que estes viveram, em sua maioria, entre os séculos XIV e XVIII, período em que a igreja detinha e concentrava o conhecimento no mundo. É natural, portanto, que aqueles que tinham a oportunidade e a propensão para desenvolver o raciocínio lógico, o fizessem sem deixar de pertencer a classe podia oferecer os meios para esse fim.
O Brasil ainda não tem nenhum prêmio Nobel. Desde quando este reconhecimento foi criado, a maioria dos laureados em ciência nasceram ou vivem em países desenvolvidos. Analisando pelo outro lado, o Instituto de Pesquisa PEW aponta que os países onde a população é mais religiosa, também são os países onde há maior desigualdade social. Então essa equação tem um termo comum: Quanto mais desenvolvido, mais cientistas e quanto mais subdesenvolvido, mais religiosos.
Está claro, portanto, que a chave para um ou para outro é o conhecimento. As pessoas com mais acesso ao conhecimento, são menos religiosas e vice-versa. Talvez o matemático e filósofo Bertrand Russell esteja certo:
“A religião é algo que restou da infância da nossa inteligência, e vai desaparecer à medida que adotarmos a razão e a ciência como nossas diretrizes.”
Conhecimento, entretanto, não é o que diferencia a ciência da religião, porque alguns podem dizer que conhecem profundamente as escrituras e todo tipo de história religiosa, mas esse conhecimento não os torna cientistas religiosos. O que os diferencia é o método.
O método com que se adquire o conhecimento científico é absolutamente diferente do método religioso
O método científico, em geral, é composto por quatro etapas: observação, formulação, experimento e aceitação ou rejeição. Todo conhecimento científico passa necessariamente por essas quatro etapas. Alguns deles são conhecidos, porque foram aceitos, porém a maioria são esquecidos porque foram rejeitados.
Você já viu alguma igreja com sala de laboratório?
Para a etapa do experimento, que antecede a aceitação ou a rejeição, é preciso um laboratório. Não precisa ser um daqueles cheios de equipamentos de medição; às vezes basta lápis, papel e raciocínio lógico. Alguns conhecimentos científicos levam décadas para serem aceitos ou rejeitados, até que se consigam os meios necessários para o experimento ser realizado. A resposta certa, invariavelmente, é encontrada no futuro.
Já a religião, baseia seu conhecimento em acontecimentos do passado, ditos verdadeiros, mas sem autoria ou comprovação. Contos, tradições e por vezes o relato de algum acontecimento analisado sem o escrutínio isento e imparcial.
“Quem é mais humilde? O cientista que olha para o universo com a mente aberta e aceita tudo o que o universo tem a nos ensinar, ou alguém que diz tudo neste livro deve ser considerado a verdade literal e não importa a falibilidade de todos os seres humanos envolvidos?”
Carl Sagan
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