Talvez você já tenha se pego fazendo algo que não é comum aos seus familiares mais próximos. Coisas pequenas que às vezes passam despercebidas como hábitos ou manias que você tem e que nenhuma outra pessoa a sua volta possui. Talvez um modo diferente de comer, um jeito diferente de se sentar, ou até mesmo algo que você fala. Você percebe que nenhuma dessas coisas que faz naturalmente e sem pesar, você aprendeu com alguém. Sua mãe não lhe ensinou, você não viu seu pai fazer, não copiou de ninguém.
Esses estranhos hábitos podem ser identificados em qualquer pessoa, desde a mais tenra idade. Pais notam trejeitos incomuns em seus bebês e se perguntam: Porque ele faz isso? De onde vem essa característica?
A ciência tem estudado esses fenômenos por décadas e estamos cada vez mais próximos de entender como algumas características únicas que possuímos são inatas, ou seja, estão presente em nós independente do meio ambiente em que vivemos. Uma dessas linhas de estudo é a Memória Genética.
Em um estudo realizado na universidade Emory, em Atlanta USA, ratos foram expostos a uma fragrância especial associada com a dor. Os ratos então passaram a ter uma reação repulsiva a fragrância. Até aí nada de novo, entretanto, foi observado que os filhos e netos desses ratos também tinham a mesma reação repulsiva a fragrância, mesmo nunca tendo conhecido seus antepassados e também nunca tendo sido expostos à dor associada. Isso provou que memórias traumáticas que afetaram o comportamento dos primeiros ratos, foram passadas geneticamente para seus descendentes.
A experiência com os ratos comprovou a “herança epigenética transgeracional”, que explica como traumas podem afetar o DNA, e como essa alteração pode ser passada para as gerações posteriores. As bases desse estudo também indicam que os seres humanos são afetados identicamente, ou seja, temos os mesmo mecanismo genético que foi capaz de induzir uma mudança de comportamento nos ratos. Não apenas somos reflexos do meio ambiente e cultura que nos cercam no presente, como também somos reflexo de como o meio ambiente e a cultura afetou nossos antepassados.
Emoções e medos experimentados por nossos antepassados, tais como: medo de Deus ou do diabo, crença em milagres, esperança na interferência divina, são sentimentos bastante fortes para marcar o DNA a ponto de serem passados para gerações futuras. Isso explica porque algumas pessoas têm grande dificuldade de abandonar crenças que não fazem o menor sentido à luz da razão. São movidas por sentimentos inexplicáveis a acreditar em milagres sobrenaturais e na intervenção divina sobre suas vidas. Essas pessoas estão apenas respondendo a um marcador genético em seu DNA, que foi passado e reafirmado de geração em geração.
Podemos achar que, nos dias atuais, esses traumas não nos afetam mais. Somos modernos! Mas lembre-se, o nosso modo de vida moderno é bastante recente. Nossa experiência de mundo repleto de informação e conhecimento é insignificante comparado ao tempo que os seres humanos viveram sem essas coisas. O automóvel (Ford modelo T) surgiu há 120 anos atrás, a televisão comercial surgiu há 90 anos, a internet surgiu há apenas 50 anos e o celular existe apenas a 30. Ou seja, tudo aquilo que nos identifica sócio culturalmente hoje, não existia a 200 anos atrás. Mas as primeiras civilizações surgiram há mais de 5.000 anos. Isso significa que parte do que somos hoje é o resultado de aproximadamente 4.800 anos de experiências humanas, em grande parte marcados pelo domínio e influência de práticas religiosas, mitos e lendas. Por isso é fácil entender porque da relutância de algumas pessoas em abandonar as crenças e superstições, mesmo diante de fatos e evidências que a razão nos revela.
Você veio de um mundo de pessoas que ignoravam a ciência, e que eram fortemente motivadas a acreditar em mitos, lendas e superstições. Mas não é para esse mundo que você e seus descendentes precisam ir. Assim como a ignorância moldou a vida de nossos antepassados, a razão pode transformar a sua vida e garantir uma vida melhor para as futuras gerações.
"Considero próprio investigar a razão de ser de todas as coisas - como são - e rejeitar as opiniões sem explicação".
Sócrates
< Voltar