“Agora acredito que o universo foi criado por uma Inteligência infinita. Acredito que as intrincadas leis deste universo manifestam o que os cientistas chamam de Mente de Deus. Acredito que a vida e a reprodução se originam numa Fonte divina. Por que acredito nisso, visto que expus e defendi o ateísmo durante mais de meio século? A resposta curta é esta: esta é a imagem do mundo tal como a vejo que emergiu da ciência moderna.”
Antony Flew
Quando o filósofo e professor britânico Antony Flew fez essa declaração em 2004, surpreendeu seus amigos e admiradores ateus. A imprensa cobriu o evento extensivamente, e religiosos usaram as palavras de Flew para reforçar seus argumentos contra o ateísmo.
O que poucos esperavam, tanto ateus quanto religiosos, era que Flew, embora não mais ateu, não se tornara religioso. Ele se identificou como deísta.
No início dos anos 2000, os cientistas mapearam completamente o genoma humano e exploravam intensamente a formação e função do DNA. Flew ficou fascinado com a complexidade e a capacidade de informação genética do DNA, o que o levou a acreditar que uma inteligência superior era necessária para sua existência.
Apesar da divulgação das declarações de Flew pela imprensa, pouco foi feito para esclarecer como e por que um ex-ateu militante se tornou deísta. Foi apenas em 2007, com a publicação do livro “Deus Existe”, que Flew detalhou seus argumentos, esclarecendo que não havia se convertido a nenhuma religião. No entanto, o livro, destinado ao público leigo, não trouxe toda a profundidade do conhecimento que Flew possuía como professor.
Vinte anos após sua declaração, podemos reavaliar o caminho trilhado por Flew com mais informação e compreensão científica.
Para responder a essa pergunta, precisamos analisar as informações disponíveis e verificar se nossa realidade pode existir sem um criador. Se encontrarmos evidências de que o universo pode existir sem um criador, poderemos argumentar que Deus não é necessário. Caso contrário, se o universo precisar de uma origem, podemos afirmar que um criador é necessário, portanto, Deus existe.
As questões que nos ajudam a obter as informações são três:
O universo sempre existiu ou teve um começo?
As descobertas sobre a mecânica quântica oferecem uma realidade alternativa ou evidência para a existência ou não de Deus?
A hipótese de múltiplos universos justifica que nossa realidade possa ser apenas uma entre muitas?
Considerações científicas e filosóficas indicam que o universo teve um início definido há aproximadamente 14 bilhões de anos. As teorias iniciais e evidências empíricas, como a Relatividade Geral de Einstein e a expansão cósmica observada por Edwin Hubble, apoiam a ideia de um começo específico. Descobertas adicionais, como a radiação cósmica de fundo detectada por Penzias e Wilson em 1965, e as observações do satélite COBE em 1989, confirmam que o universo começou com o Big Bang.
A Segunda Lei da Termodinâmica também sugere que o universo teve um início, pois a entropia máxima ainda não foi atingida. Além disso, a impossibilidade de um passado eterno apoia a conclusão de que o universo teve um começo.
O Big Bang é a Primeira Causa ou há algo mais fundamental?
Em 2013, o cosmólogo Lawrence Krauss sugeriu que o universo surgiu do "nada" devido à simetria perfeita de matéria e antimatéria antes do Big Bang. No entanto, essa teoria enfrenta problemas, pois não aborda a causalidade eficiente: de onde veio o campo quântico? Além disso, a definição de "nada" usada por Krauss é contestável e a teoria é logicamente incoerente.
Krauss também propôs a teoria dos múltiplos universos, mas isso não resolve os problemas da causalidade e do início absoluto. O teorema de Borde-Guth-Vilenkin confirma que qualquer universo em expansão teve um começo absoluto.
A exclusão do passado eterno e as inconsistências das explicações físicas sugerem a necessidade de uma entidade metafísica. Duas possibilidades são: objetos abstratos, como as leis da natureza, ou uma mente não-física.
Objetos abstratos não podem criar matéria, deixando uma mente não-física como a opção mais viável. Embora essa conclusão possa ser acusada de "Deus das lacunas", a argumentação baseada em evidências indica que é uma inferência lógica.
Portanto, é mais razoável e plausível considerar um Deus onipotente, imaterial e atemporal como a realidade primeira e necessária do universo.
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