Muita coisa boa tem sido feita em nome de Deus, não há dúvida. Mas para sermos justos, precisamos lembrar de tudo que foi feito e daí fazer a contabilidade da história do homem agindo em nome de Deus.
A mente humana tem uma tendência involuntária de lembrar apenas do que é bom e mandar para o arquivo morto da memória tudo que não lhe agrada. É fácil verificar isso. Em uma entrevista de emprego você não terá nenhuma dificuldade em destacar e tecer comentários sobre suas virtudes, mas será reticente e irá gaguejar ao ter que mencionar alguns pontos negativos de sua personalidade. Isso acontece com cada indivíduo e também coletivamente, com fatos da nossa história. Sendo assim, vamos lembrar alguns fatos que fizeram parte de nossa histórias e que foram, de alguma forma, atribuídos à vontade de Deus.
A maior fonte de informação sobre o homem e sua relação com Deus é a bíblia e é através dela que podemos recuperar algumas histórias. Antes, é preciso dizer que atualmente o estudo científico, arqueológico e a análise histórico-crítica da bíblia contesta inúmeros relatos das origens da religião judaico-cristã. Entretanto, para o que nos propomos aqui, não importa se as histórias são verdadeiras ou não, mas sim a influência que a história relatada na bíblia teve em ainda tem sobre o pensamento do homem.
Desde Gênesis, encontramos o Deus bíblico trabalhando de maneira estranha para ajudar seus filhos. Pergunta: faz sentido salvar a vida de uma única família e alguns animais, e matar todos as outras pessoas, incluindo mulheres e crianças, em prol de se obter uma conduta moral mais ajuizada? Essas mulheres e crianças que teriam morrido, não poderiam ser boas, ou então se arrependerem e assim recompor o número de bons cidadãos? A história do dilúvio parece ter uma única finalidade; mostrar que Noé deveria seguir qualquer ordem de Deus, mesmo que não fizesse o menor sentido ou que fosse moralmente abominável. Uma ideia maravilhosa para quem quer dominar o povo falando em nome de Deus.
Um pouco mais a frente na história, lemos sobre Moisés, que realizou grandes milagres em nome de Deus. Mas bastou ele sair do Egito para que ele ordenasse a massacre de todos os homens midianitas, o saque e a destruição da cidade. Não satisfeito, ordenou a morte de todas as crianças de sexo masculino e que deixassem vivas as meninas para que servissem de escravas sexuais. Tudo isso feito pelo grande Moisés, em nome de Deus.
Davi, mata um homem (Golias) de quase três metros de altura que usava um capacete de bronze com uma pedra lançada de uma atiradeira. Dá pra acreditar? Para se casar com a filha do rei, Davi mata 200 filisteus e corta-lhes o prepúcios para dar ao rei em troca da esposa. Depois de se tornar rei, mata milhares de pessoas, apaixona-se por uma mulher casada e para se livrar do rival, envia-o para a morte certa na frente de batalha. Seu filho Salomão, ao qual são atribuídos os salmos da bíblia, teria tido 700 esposas e 300 concubinas, e a religião quer nos convencer que ele é o rei mais sábio que já existiu.
Essas são só algumas histórias sobre homens “santos” que agiram em nome de Deus, conforme está escrito no velho testamento da bíblia. É esse tipo de pessoa que a religião enaltece e que usa para justificar tudo que é feito pela igreja em nome de Deus.
Em 1252, durante a chamada inquisição da igreja católica, o papa Inocêncio IV autorizou o uso de tortura na caçada aos heréticos. A caça às bruxas liderada pela mesma religião, levou milhares de mulheres curandeiras inocentes para a fogueira. De 1096 até 1272 a igreja cristã promoveu o maior derramamento de sangue da história em nome de Deus, as "Cruzadas”. Essa infundada e despropositada ação, ceifou a vida de milhões de pessoas.
Para não dizerem que apenas a religião cristã foi a responsável por toda carnificina que a humanidade já viu, vamos lembrar de outras:
Para agradar a Deus e trazer boa colheita, os Astecas assassinavam cerca de 20 mil pessoas por ano. Como se não bastasse, o sacrifício ainda incluía arrancar o coração das pessoas enquanto ainda estavam vivas.
As Jihads (guerras santas islâmicas), mataram milhões ao longo de 12 séculos.
Por volta de 1850 na Birmânia budista, ocorriam centenas de sacrifícios humanos.
Na índia, membros da seita Thug, estrangularam 2 milhões de pessoas como sacrifícios para apaziguar a ira da deusa sanguinária Kali.
Em 1857, 120 homens, mulheres e crianças foram massacrados em Mountain Meadows, no Estado de Utah, nos EUA, por um grupo de mórmons e índios.
Ao longo de toda história vemos atrocidades sendo cometidas em nome de Deus. Nas regiões do planeta onde as religiões exercem grande influência sobre a população, ainda hoje presenciamos conflitos religiosos que devastam o progresso da humanidade.
Desde 1947, judeus e muçulmanos se matam pela terra prometida. Apenas do ano 2000 para cá, mais de 7.500 vidas foram tiradas.
Na região da Caxemira, hindus e muçulmanos já contribuíram para diminuir as populações da Índia e do Paquistão em mais de 500.000 pessoas.
No norte da Irlanda, católicos e protestantes foram responsáveis por mais de 4.000 mortes.
Mais de 100.000 pessoas morreram no conflito religioso entre cristãos e muçulmanos nos Bálcãs, entre 1980 e 1990.
E para quem acha que tudo isso está no passado, basta pesquisar na internet sobre os ataques religiosos no Brasil (veja nossos recortes) e encontrará várias matérias sobre o assunto, o que demonstra um crescimento em proporções jamais vista. Praticantes de cultos afro são os maiores alvos de evangélicos, mas há registros de agressões também a judeus e muçulmanos.
Com tudo isso agora fresco na memória, podemos abrir o livro caixa da civilização humana e chegar ao saldo do que tem sido os últimos 10.000 anos de crença religiosa. Não precisa ser um hábil contador para verificar o estrago que a religião tem feito. A religião dividiu os homens, semeou preconceito e discórdia, usou Deus para obter poder e riquezas.
"A minha mente é a minha igreja. Fazer o bem é a minha religião".
Thomas Paine
< Voltar