Espiritualidade é um termo que sempre esteve relacionado com a religião e se origina da palavra raiz “espírito”, que é a parte imaterial do ser humano. Espiritualidade, portanto, trata de tudo aquilo que caracteriza um ser humano, mas não é material. Espírito, também é empregado como sinônimo de alma, que é aquilo que sobrevive ou continua vivendo, além do que é material no ser humano.
De várias formas, a religião sequestrou o significado da palavra, espiritualidade, fazendo entender que a espiritualidade é o que liga o ser humano a Deus, e que o caminho para alcançar essa ligação seria através de crenças, dogmas e rituais pré-definidos em tempos antigos. Se você não segue a doutrina da religião,ou seja, não se batiza, não comunga, não congrega, não obedece, você quebra essa ligação e você, ou seu espírito, não pode alcançar Deus no final de sua materialidade, a morte.
Medo. Medo da morte, medo de se perder, medo de ficar sozinho, medo de não ter feito a coisa certa, medo de ter desobedecido.
“A condição dos homens seria lastimável se tivessem de ser domados pelo medo do castigo ou pela esperança de uma recompensa depois da morte.”
Albert Einstein
Mas, espiritualidade, não está relacionada à religião. Nunca esteve.
A espiritualidade pode ser definida como uma "propensão humana para buscar significado na vida, por meio de conceitos que transcendem o tangível, à procura de um sentido de conexão com algo maior que si próprio".
O que é imaterial no ser humano, o que transcende o tangível, são seus valores. E aquilo que sobrevive à morte, que o conecta com algo maior que si próprio, é o seu legado, o que o ser humano deixa para a próxima geração e segue, imortal, enquanto houver humanidade.
Esses valores, não tem nada a ver com religião. O seu legado, não tem nada a ver com religião. Espiritualidade, portanto, não tem nada a ver com religião.
A espiritualidade genuína é racional. Não tenta negar ou fugir da realidade. Em vez disso, enfrenta, de frente, uma realidade confusa, com compaixão e ação positiva – demonstrando ortopraxia, ou ação correta, em vez de impor a ortodoxia, que é crença correta. A espiritualidade genuína não diferencia algumas pessoas das outras. Pelo contrário, reconhece a nossa humanidade comum, as suas fraquezas e pontos fortes, e nos aproxima. Abraça a razão e persegue a verdade, quer a verdade seja o que queremos que seja, ou não.
A espiritualidade genuína é a experiência de admiração, de criatividade, de amor, de conexão com outros seres vivos. Inclui o cultivo da empatia e da compaixão pelos outros através de exercícios reflexivos como meditação e contemplação. A espiritualidade genuína exige honestidade, liberdade, tolerância e igualdade, valores que vão contra as estruturas de poder religioso que têm sido dominantes durante tanto tempo. É um processo de redescoberta e de valorização renovada do nosso lugar na natureza, uma ênfase que contrasta com os esforços da religião tradicional para separar a humanidade das suas origens naturais e até mesmo para nos separar das necessidades e prazeres do nosso próprio corpo físico.
“Minha religião consiste numa humilde admiração pelo ilimitado espírito superior, que se revela nos mínimos detalhes, que somos capazes de perceber com a nossa mente frágil e débil.”
Albert Einstein
Tomados dessa espiritualidade racional e genuína, sentimos a necessidade de expressar nosso espanto e admiração com a adoração. Mas adorar também não exige religião. O significado original da palavra adorar é honrar. Honrar aquilo que é bom na realidade, na natureza, incluindo a nossa natureza humana. Esta espécie de homenagem, é algo que ,na verdade, já fazemos quando celebramos uns aos outros em nascimentos, aniversários, marcos importantes, casamentos e funerais, quando, como comunidade ou sociedade, celebramos pessoas que se destacam no seu trabalho e fazem muito bem para os outros e quando celebramos as estações e maravilhas do mundo natural.
A espiritualidade racional parece captar adequadamente tanto uma abordagem racional do conhecimento como a essência geral do que a maioria das pessoas quer dizer quando fala sobre espiritualidade. Sinceridade, amor, empatia, compaixão, respeito, unidade, criatividade, sabedoria e práticas reflexivas como meditação, contemplação, ritual e assim por diante.
Como deísta, acreditamos na capacidade humana de superar os seus preconceitos cognitivos, na capacidade de mudar os seus comportamentos a tempo de salvar o planeta, e na capacidade de desenvolver uma espiritualidade racional que proporcionará uma alternativa saudável às ideologias religiosas.
“A ciência não só é compatível com a espiritualidade, mas também é uma fonte de espiritualidade profunda.”
Carl Sagan
< Voltar