Conforme já argumentamos em outros artigos, Deus é incognoscível. Mas isso não nos impede de refletir sobre Ele, sem nunca ter a pretensão de que essa reflexão seja a nossa interpretação do Criador. É mais como um exercício mental, uma teoria que nunca será testada. Se preferir, chame-a de sonho, pois é apenas uma ficção deísta.
Essa teoria improvável, resvala, sem a intenção de analogia, em alguns conceitos já explorados pela ficção científica. Também implica numa associação errônea do texto bíblico, mas que procuramos evitar. Contudo, como essas comparações são inevitáveis, alertamos o leitor que essa teoria improvável pode ter influência externa, mas propõe uma visão diferente. Uma visão deísta.
Tudo começa quando buscamos responder a um enigma, discutido desde os primeiros homens, e ainda sem explicação. Por que somos tão diferentes de outros animais?
É certo que o que nos torna diferentes de outros animais é a nossa capacidade de raciocínio. Outros animais são capazes de comunicação, são capazes de aprendizado, são capazes de sentimentos e de muitas outras características que, somadas ou associadas, nos dão a impressão que eles raciocinam, de maneira rudimentar, mas ainda assim raciocinam.
Mas há uma única característica humana que é exclusiva. A capacidade de criar mentalmente.
Tudo o que somos, tudo o que fizemos e tudo o que realizaremos no futuro, antes, tem origem em criações mentais. Somos a única espécie animal capaz de criar música, histórias ficcionais, imagens vívidas de nós mesmos e de outras coisas. Somos a única espécie animal capaz de imaginar.
Uma das mentes mais brilhantes que já existiu, disse uma vez:
“A imaginação é mais importante que o conhecimento, porque o conhecimento é limitado, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro”
É possível que Albert Einstein estivesse apenas comparando a nossa capacidade de criação mental com a capacidade de acumular informação, mas como um deísta que ele era, acreditamos que estivesse refletindo sobre um aspecto, que é comum a todos os seres humanos, independentemente de raça, cultura ou geografia, e que está na base e no princípio de tudo que nos define e nos diferencia de outros animais.
Por ser uma característica única, encontrada até agora apenas nos seres humanos, gostamos de acreditar que trata-se de um presente.
Quando encontramos na natureza uma coisa única, extraordinária e tão importante para a completude e desenvolvimento do universo, e sem poder explicar de outra forma, nossa razão nos leva a acreditar que essa ,coisa, tem um propósito.
Seria a nossa capacidade de criação mental, nossa imaginação, um dom? Uma dádiva, um presente recebido com uma finalidade, um propósito?
Talvez, no futuro, venhamos a encontrar seres igualmente capazes de imaginar, mas isso não diminui ou desmerece em nada a importância dessa característica incomum. Seria muito egoísmo de nossa parte achar que somos especiais em todo o universo.
Mas o que a nossa capacidade de imaginar tem a ver com o Criador. Seria o Criador, fruto de nossa imaginação? Se fosse, como poderíamos ser o criador de nós mesmo?
Não! Já refletimos sobre a necessidade de haver um Criador, uma primeira causa, então não é racional propor que o Criador seja produto de nossa imaginação. Mas, porém, o contrário não é tão improvável, e essa é a teoria improvável.
Certamente alguns dos leitores desse artigo já leram um bom livro de romance como Romeu e Julieta, ou talvez um de fantasia como Harry Potter ou Senhor dos Aneis.
Se já leu, sabe que a mente criativa do autor foi capaz de criar personagens cujas personalidades são únicas, ambientes impossíveis de existirem em nosso planeta, mas com tanta riqueza de detalhes que você, leitor, é capaz de imaginar que realmente existam, talvez em um outro mundo.
Essa capacidade criativa não é exclusiva de autores de livros. Como Einstein nos lembrou, essa capacidade abrange o mundo inteiro, ou seja, todos os seres humanos têm.
Você pode facilmente comprovar isso.
Feche os olhos, não se distraia e comece a imaginar uma pessoa nova, um avatar, fazendo analogia aos jogos de videogame. Imagine o gênero, a forma física, a cor de pele e os cabelos. Imagine o jeito de andar, de sentar, de se mover. Você pode até imaginar essa pessoa tendo emoções ou conversando com outras pessoas. Se continuar, você pode colocar essa pessoa em um lugar conhecido, ou imaginar um inteiramente novo para ela.
Essa nova pessoa, esse avatar, existe?
A resposta mais correta é: Ele existe na sua mente!
O mundo em que você pôs esse avatar, é real?
A resposta mais correta é: É real para o avatar!
O avatar é capaz de conhecer seu criador, ou seja, você?
Por mais criativo que você seja, tentando fazer com que o avatar o conheça, isso jamais vai acontecer. Por que?
Porque você e o avatar não fazem parte da mesma realidade. Não são feitos da mesma substância. Uma vez que o avatar fosse capaz de conhecer você, ele seria capaz de conhecer a sua realidade, outras pessoas. Isso é impossível.
Bem, agora que já exercitamos a nossa criatividade e refletimos sobre a lógica que envolve esse raciocínio, podemos extrapolar essa ideia para fundamentar a nossa teoria improvável.
Se você, com uma mente limitada, com uma capacidade de imaginação limitada, com tempo limitado, é capaz de criar uma realidade para um avatar; o que uma mente de poder ilimitado, e fora das dimensões de tempo e espaço seria capaz?
Sim, uma mente de poder ilimitado que não esteja sujeita ao tempo e ao espaço poderia criar um universo, uma galáxia, um planeta, um ser, você.
Existimos em uma realidade que poderia ser a expressão do pensamento de uma mente de poder ilimitado. Somos reais? Sim, claro! Como o nosso avatar, acreditamos em nossa realidade. Podemos conhecer nosso criador? Claro que não! É impossível para nós conhecer outra realidade que não seja a nossa.
Apesar da diferença de potencial entre uma mente limitada e uma mente ilimitada, há uma semelhança na forma como criamos e somos criados. Quando o autor do filme Matrix propôs uma realidade paralela controlada por máquinas inteligentes ou quando um homem escreveu que Deus fez o homem a sua imagem e semelhanças, talvez eles estivessem apenas tendo um “insight” de uma teoria improvável.
< Voltar