A palavra grega aportuguesada para “laico”, foi atribuída pela primeira vez para designar as pessoas que não pertenciam ao clero, portanto, que não se envolviam em assuntos religiosos. Mais tarde, o termo passou a ser utilizado em política para definir como um “Estado Laico” países com uma posição neutra no campo religioso.
Um país laico é aquele que segue o laicismo, uma doutrina que defende que a religião não deve ter influência nos assuntos do Estado. Oficialmente, o Brasil é um Estado Laico, conforme denota o artigo 5o. da Constituição Brasileira de 1988. Nos países não laicos, a religião exerce o seu controle político na definição das ações governamentais, tais como: Vaticano, Irã e Israel.
A separação entre Estado e Religião é defendida por muitos pensadores ao longo de toda a história do homem. Desde o tempo de Aristóteles até os dias atuais, existe uma razão lógica e fundamental para que as sociedades adotem essa doutrina.
Se a religião não influencia o Estado, o Estado não influencia a religião.
A princípio, poderíamos pensar que a adoção do laicismo visa proteger os assuntos político-sociais da influência dos dogmas e crenças religiosas, e é, mas em um sentido mais amplo, é a proteção da própria religião que se busca.
Contudo, o que vemos hoje em dia não é, nem uma coisa, nem a outra. Cada vez mais observamos a influência de religiões em Estados Laicos e vice-versa. Este lamentável acontecimento tem por origem o descuido na observância dos limites que preservam essa separação. O mundo hoje é mais fluido e também mais superficial. A geração Z, munida de todo arsenal de informação disponível na internet passou a se importar menos com a religião e a política, por se sentirem a salvo dos influenciadores tradicionais dessas duas organizações. Entretanto, é justamente a falta de atenção com esses limites e o menosprezo a importância dos conceitos do laicismo, que possibilitam a contaminação, cada vez maior, de uma organização pela outra.
Não somos tolos a ponto de ignorar nossa origem ancestral. Viemos, em nossa maioria, de uma sociedade religiosa com um grande peso cultural proveniente da idade média. Mas não é porque viemos de uma sociedade religiosa, que não podemos mudar. Afinal, também viemos dos macacos, mas não moramos mais em árvores.
Reconhecemos que muitas regras que baseiam nossa sociedade tem origem na cultura religiosa de nossos antepassados, mas as regras que se perpetuam sem causar estremecimento social, são aquelas que também se consolidam na razão e na lógica. É nesse conceito que o deísta se baseia para nortear suas ações.
Vejamos alguns exemplos da interferência político-religiosa em nossas vidas:
Recentemente temos visto um chefe de estado exaltar sua orientação religiosa como sendo um grande diferencial entre os homens de bem, como se ser religioso fosse prerrogativa para ser um homem bom.
Se é sincera ou não a sua orientação religiosa, isso não nos importa. O que nos preocupa é, com qual imparcialidade ele irá governar para toda população de seu país, uma vez que a maioria do povo não segue a mesma orientação que ele.
Não satisfeito em enaltecer sua orientação religiosa como chefe de estado, incentiva que os juízes da suprema corte sejam “terrivelmente” religiosos e da mesma orientação que ele.
Assim como um governante deve governar para todos, um juiz deve julgar a todos com o mesmo peso da lei. Então, como um juiz “terrivelmente” religioso pode julgar imparcialmente uma pessoa não religiosa? Ou ainda, julgar uma pessoa religiosa de outra orientação?
Como isso pode ser bom?
Na via contrária da nefasta interferência, vemos religiosos, que em teoria deveriam se dedicar a religiosidade para receber esse título, participarem do governo criando leis que deverão ser obedecidas por toda população, mas que contém apenas o pensamento doutrinário de sua religião.
Um bom exemplo disso é a questão relacionada ao aborto. Como deístas, defendemos que questões como essa sejam debatidas à luz da razão, sem o viés religioso. Já evoluímos o suficiente em entendimento para sermos capazes de formular leis que orientem a questão do aborto. Qualquer interferência religiosa nessa questão pode ser tão desastrosa como a que determinou que a terra é o centro do universo e que tudo gira em torno dela.
Dessa forma, o deísta defende o Estado Laico e mais do que isso, defende que todas as pessoas membro do governo, sejam elas das esferas executiva, legislativa ou judiciária, se declarem sem religião e que leis sejam criadas para preservar isenção.
"Na religião e na política, as crenças e convicções das pessoas são, em quase todos os casos, obtidas de segunda mão, e sem exame, de autoridades que não examinaram as questões em questão, mas as tomaram em segunda mão de outros não examinadores, cujas opiniões sobre eles não valiam um centavo de bronze."
Mark Twain
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