Tem gente que prefere uma mentira fixa do que uma verdade variável. Isso pode ter a ver com a insegurança das pessoas e a necessidade de “plantar raízes” para crescer. Não é o caso do deísta. Somos fundamentados pela razão e a razão pode evoluir com o passar do tempo à medida que o entendimento aumenta. A diferença está em olhar para trás ou olhar para frente. Já sabemos tudo ou ainda não sabemos nada?
Nossa fé no Criador segue o mesmo raciocínio. É uma diferença sutil entre, acreditar em Deus e acreditar que Deus existe. Como deístas, acreditamos que Deus existe, fundamentados pela razão que temos até esse ponto de nossa evolução e com base no entendimento sobre tudo até agora. Reconhecemos a realidade que estamos num processo evolutivo e que há muito pela frente, portanto, não é inteligente fechar questão sobre nada. Mantemos nossa mente aberta.
Uma certeza que temos é que Deus, ou o Criador, como preferimos chamar, é incognoscível, ou seja, não pode e nunca poderá ser conhecido ou compreendido pela mente humana. Isso se parece um pouco com a filosofia agnóstica? Sim, mas para por aí.
Sabemos disso pela aplicação lógica na relação entre criador e criatura. A criatura jamais conhecerá seu criador, assim como a estátua do pensador não conhece Rodin, a pintura da capela sistina não conhece Michelangelo, a Mona Lisa não conhece Leonardo da Vince e João Grilo nunca conhecerá Ariano Suassuna.
Apenas como exercício, digamos que Visconde de Sabugosa pudesse escrever uma nova história do sítio do Pica-Pau Amarelo. Então, Sabugosa não seria mais criatura e sim criador, mas mesmo assim, ele não poderia conhecer Monteiro Lobato. Logo, pela razão e pela lógica, jamais a criatura poderá conhecer seu criador. Deus é incognoscível.
Mas isso não nos impede de raciocinar sobre ele. Podemos e devemos exercitar nossa razão investigando o universo a procura de pistas que o Criador pode ter deixado e assim, evoluir mais e mais, nos aproximando Dele, em entendimento.
Olhando atentamente a estátua do pensador, podemos identificar traços únicos e exclusivos de Rodin, os detalhes da capela sistina podem dizer alguma coisa de Michelangelo e prestando bastante atenção em João Grilo, talvez possamos compreender um pouco da personalidade de Ariano Suassuna. São essas pistas que o deísta procura desvendar com a ajuda da ciência, sem nunca ter a pretensão de conhecer ou afirmar algo sobre o Criador.
Então, o que sabemos até esse momento que pode nos dar essas pistas?
A teoria do Big Bang não é consenso, mas é a teoria aceita pela maioria das mentes mais brilhantes. Não podemos olhar tão distante para o passado a ponto de ver e comprovar o Big Bang, mas podemos olhar para o passado até um certo ponto, e o que vemos concorda, por enquanto, com essa teoria. Apenas para esclarecer, sim, podemos olhar o passado. Se o Sol apagasse agora, levaria cerca de 8 minutos para você perceber. Esse é o tempo que a luz leva para chegar até nós, portanto, quando vemos o brilho das estrelas no céu, estamos vendo o passado delas e não o presente.
Dito isso, e tendo como ponto de partida o Big Bang, podemos teorizar sobre o Criador utilizando nosso intelecto e as pistas deixadas.
A teoria do Big Bang diz que o universo se originou da expansão de um único ponto de energia extremamente concentrado. Essa energia foi se expandindo e modificando, dando origem ao espaço e tudo que há nele. Lembramos que o tempo é a quarta dimensão do universo, portanto, antes do Big Bang não havia tempo. Isso nos dá a primeira pista sobre o Criador. Ele é eterno, sempre existiu e sempre existirá. Passado, presente e futuro são noções do tempo que só se aplicam a criação.
Hoje, ainda não encontramos os limites do universo, a sua borda, mas sabemos que o que podemos ver representa 5% do universo. Existe 95% do universo que não interage com a luz, portanto não podemos ver. Sabemos disso analisando a ação da gravidade em certas regiões do espaço observável e por isso sabemos que há alguma coisa lá mas que não é visível. Chamamos isso de matéria e energia escuras. Isso, talvez, nos dê mais uma pista do Criador. Ele é infinito, pois nada finito poderia criar algo tão grande como o universo.
Também, observando a criação, mas agora olhando pelo microscópio, sabemos da existência de alguns fenômenos que são responsáveis por manter o universo existindo. Esses fenômenos são chamados de “forças fundamentais” e podemos encontrá-las em tudo e em todo lugar. O que é mais interessante nessas forças é que elas não se alteram em grau, ou seja, elas não variam. Você pode aplicar pressão com o seu dedo sobre uma base sólida variando a intensidade. Você põe mais ou menos força e isso altera o meio. Isso não acontece com as forças fundamentais. Seus graus ou intensidades são as únicas possíveis para manter o universo existindo. Um pouco mais forte ou um pouco mais fraco e o universo não existiria como é. Essa é outra pista do Criador. Essas forças são exatamente o que precisam ser para que tudo exista, então podemos dizer que a vontade do Criador se expressa no universo em tudo e em todo lugar. Ele é onipresente.
Essa vontade do Criador é a base para existência da vida. Graças a essas condições únicas é possível existir vida e a vida parece ter um propósito. A vida se multiplica, se adapta, se expande e interage entre si para gerar mais vida. Esse propósito da vida está presente em cada célula de cada organismo, desde o mais simples até o mais complexo. A natureza da vida é evoluir e não há o que cesse esse processo. Não há como interromper a evolução da vida, portanto, concluímos que o Criador nos deu um destino. A vida precisa crescer, se espalhar e evoluir por toda a criação. E como a vida pode se expandir pelo universo?
Dentre todas as formas de vida conhecidas, nós fomos agraciados com a capacidade de controlar os elementos. Aprendemos a remexer a terra, a desviar a água, a aproveitar os ventos e manipular o fogo. Controlando esses elementos, construímos maravilhas e com essas maravilhas, passamos a observar o universo com mais detalhes e fomos capazes de conhecer e compreender os fenômenos naturais. Usando esse fenômenos a nosso favor, criamos ferramentas e máquinas que multiplicaram nossa capacidade de controlar os elementos. E esse ciclo não para.
É um ciclo interminável de evolução que sugere apenas um objetivo. Expandir e continuar a vida, para além desse pequeno globo flutuante no universo, evoluindo e compreendendo cada vez mais sobre toda a criação até o ponto que nos for permitido compreender.
“Toda variedade de objetos criados que representam a ordem e a vida no universo só poderia acontecer pelo raciocínio intencional de seu Criador original, a quem chamo de 'Senhor Deus'."
Isaac Newton
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