Não se sabe quando surgiu a primeira oração, mas estima-se que se originou do pedido aos astros (Sol e Lua), responsáveis por produzir boas colheitas, portanto, a mais de 10.000 anos atrás, quando os homens estavam se transformando de caçadores-coletores em agricultores. Daí, também passou a ser utilizada no antigo Egito para encomendar, para esses mesmos astros, a alma dos faraós em uma vida após a morte, que por sua vez, também se tornavam deuses com poderes de conceder pedidos.
Obviamente, como sabemos hoje, nenhuma dessas práticas tem fundamento e só faziam sentido na mentalidade primitiva do homem antigo. Mas a prática se disseminou entre os povos, mudando apenas de deuses astrológicos ou mitológicos para o Deus “único” das religiões reveladas. Mas a religião deu à oração um sentido ainda mais poderoso e obscuro.
“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.
Esta frase foi dita por Joseph Goebbels, político alemão e Ministro da Propaganda na Alemanha Nazista.
Goebbels, assim como muitos outros profissionais da propaganda, conhecia o poder da repetição. Um grande escritor americano, Zig Ziglar, reformulou a frase de Goebbels dando um sentido mais completo dizendo: “A repetição é a mãe da aprendizagem, o pai da ação, o que a torna o arquiteto da concretização”. Sendo assim, a repetição tem o poder, além de transformar uma mentira em uma verdade, também de “formatar” o pensamento do homem.
Reze dois “Pai Nosso” e uma “Ave Maria” como penitência.
Participe da "Novena" da comunidade.
Reze um “Terço” para alcançar essa graça.
Reze o “Namaz” diariamente (5 orações, os “Salat”) voltados para Meca.
Reze “repetidamente” os versículos da Torá no muro das lamentações.
Um culto religioso pode variar nas citações aos textos, nas canções, nas festividades, mas sempre tem o mesmo formato. Todos os dias é sempre igual. Você seria capaz de dizer, sem pensar muito, como começa e quando termina. E só tem um motivo para o culto não ser diferente todos os dias. Repetição!
A repetição faz a “coisa” se tornar automática. O subconsciente é marcado, como uma roda que passa sempre no mesmo caminho, e dali para frente é só fazer uma supervisão esporádica para que não saia dos trilhos por acidente. É assim que funciona.
Se pudéssemos saber o que as pessoas estão pensando durante uma oração em um culto religioso, veríamos uma miríade de pensamentos distantes do conteúdo da oração. O subconsciente é ativado pela repetição, mas o consciente pode estar pensando nas contas para pagar, no corte de cabelo da pessoa no banco da frente, no que vai comer depois do culto, etc.
A oração, a “verdadeira oração”, precisa ser “sentida” mais do que ser recitada repetidamente. Deus não precisa ser bajulado ou louvado, como lembra Spinoza: “Que Deus ególatra pensa que eu sou?”. Se você tem uma intenção boa para com Deus ou para com seu semelhante, expresse-a em sua vida! Se você dirige um pedido a Deus é porque você acha que Ele não sabe o que fazer, ou porque você pensa que sabe mais do que Ele, então, não dirija pedidos a Deus, dirija ao seu semelhante que pode fazer algo por você. Se o seu pedido traduz um sentimento verdadeiro, ele será capaz de sensibilizar outras pessoas e seu pedido será atendido, talvez não da maneira como você quer, mas da maneira como as outras pessoas podem.
Rezar antigas orações, cuja origem e significado são desconhecidas ou estão em desacordo com a razão são ainda mais prejudiciais. Os muçulmanos recitam as Salat em árabe, mesmo que o praticante não saiba falar árabe. Os cristãos recitam “…santificado seja o vosso nome…”, mas não fazem a mínima ideia de qual é o nome de Deus. A oração do Pai Nosso, particularmente, começa cometendo um grave erro. Deus não está no céu. Ele está em todo lugar e principalmente em cada um de nós. Dizer “Pai nosso que estais no céu…” implica, necessariamente, que Ele não está no mesmo lugar que você, que está em outro lugar, onde nós não podemos estar. Isso não é verdade, então pare de dizer isso.
Hoje sabemos pela ciência que a maior parte do que fazemos tem origem nas informações armazenadas em nosso subconsciente. Conscientemente você seleciona as opções, mas é o seu subconsciente que lhe fornece a vontade para decidir entre as opções selecionadas. Então, pesquisar sobre como desenvolver e trabalhar com as informações do subconsciente, tem recebido muita atenção e muito já foi descoberto.
Uma das principais correntes de pensamento que aborda esse estudo é a “Lei da Atração”, que ficou famosa com a publicação do livro “O Segredo”. A proposta dessa "lei" é que você seja capaz de atrair para si qualquer coisa que realmente deseje. O método para alcançar isso passa por conseguir trabalhar com o seu subconsciente utilizando quatro passos: 1) Saber o que você quer, 2) Pensar no que você quer com bastante convicção, 3) Sentir e se comportar como se o objeto do desejo estivesse a caminho e finalmente, 4) Estar aberto para recebê-lo. A lei da atração pode até funcionar para quem tem um domínio grande de seus pensamentos, mas em geral as pessoas: 1) Não sabem exatamente o que querem ou tem dificuldade em se decidir por um único desejo, 2) Muitas vezes a pessoa tem pensamentos, conscientes ou subconscientes que são sabotadores do desejo, 3) Para alguns seria um comportamento “louco”, daí inibem ou sentem vergonha e 4) Essa é a parte mais fácil de todas.
Também sabemos da eficácia do tratamento de várias enfermidades através da influência do nosso subconsciente pelo “Efeito Placebo”, conhecido e utilizado há décadas pela medicina moderna. Hipnólogos são capazes de produzir irritação em sua pele apenas encostando o dedo e lhe dizendo que se trata de um cigarro aceso. Seu subconsciente é capaz de produzir efeitos físicos e mentais, e uma das maneiras mais fáceis de acessá-lo é através da meditação e da repetição, duas características intrínsecas também à oração.
A oração ou meditação com repetição, portanto, exerce influência sobre nosso subconsciente e isso é capaz de desencadear processos de auto cura. Não sabemos até onde esse processo pode ter efeito, mas sabemos que cada célula do seu corpo sabe como se desenvolver, se replicar e como funcionar. Não foi preciso explicar para o óvulo e para o espermatozoide como eles deveriam produzir um ser humano completo. Esse conhecimento existe em cada um de nós e é acessado por cada célula do nosso corpo.
O poder da oração, portanto, não tem nada de místico ou sobrenatural e pode ser benéfico se utilizado com conhecimento e racionalidade, mas nunca deveria ser empregado como forma de produzir zumbis religiosos.
"A função da oração não é influenciar Deus, mas especialmente mudar a natureza daquele que ora".
Soren Kierkegaard
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