Se há algo em comum entre os deístas é que eles não nasceram deístas. Quero dizer, ninguém nasce sabendo, mas como o assunto envolve religião, é comum encontrarmos pessoas que nasceram em uma família religiosa e que apenas seguem em frente com o legado da família. Mas isso raramente acontece com um deísta.
Apesar das primeiras ideias deístas terem surgido no século XVI, você não encontra facilmente uma família deísta. Existem até famílias de ateus e agnósticos, mas de deístas, não!
Por que isso acontece?
Após muitos anos estudando o deísmo e participando de grupos de discussão, é possível concluir que o deísmo é uma espécie de terceira via para os crentes e descrentes. Após ler e ouvir dezenas de relatos de pessoas contando como elas se tornaram deístas, fica evidente que o deísmo é o caminho natural para quem já experimentou várias formas de espiritualidade, mas continua com aquela desconfiança de que nenhuma delas corresponde às expectativas. São sempre, ex-alguma coisa, que se tornam deístas. Religiosos de todas as crenças, e ateus e agnósticos de todas as descrenças.
Geralmente são pessoas de meia idade para mais, que já trilharam um longo caminho na vida e atingiram uma maturidade intelectual. Há um grande número de deístas nos Estados Unidos, por conta do deísmo dos chamados, Pais Fundadores da América, mas também há muitos deístas na Europa devido a influências de pensadores como Thomas Paine, Baruch Spinoza, Voltaire e outros. Ainda há poucos na América Latina, África e Ásia, porque o alto nível de desigualdade social dessas regiões favorece a influência religiosa. Mas mesmo em países com grande tradição fundamentalista religiosa, o deísmo parece exercer a mesma força conclusiva. Um artigo publicado pela revista Ahval, intitulado “O que está a empurrar metade da Turquia para o deísmo?”, explica como uma população cansada das incoerências religiosas do Islamismo, está se tornando mais esperta.
“É possível que a humanidade esteja no limiar de uma idade de ouro; mas, se assim for, será necessário primeiro matar o dragão que guarda a porta, e esse dragão é a religião.”
Bertrand Russell
Essas pessoas, que se tornam deístas, não são pessoas acomodadas. Se fazem esse movimento é porque já fizeram outros antes e ainda sentem que podem saber mais. Se fossem acomodadas, se seu raciocínio fosse embotado, teriam se conformado com as respostas que encontraram ao longo do caminho. Ao invés disso, deístas parecem ter uma vocação natural para explorar, uma sede insaciável de saber e uma capacidade acima da média para questionar e fazer comparações.
O deísmo não é uma religião porque não tem dogmas, rituais e não é organizado. O deísmo é um conjunto de ideias de livres pensadores que são guiados pela razão, e por esse motivo, não estabelecem conceitos imutáveis. Você não vê deístas dizerem: É assim e pronto. A razão disso é que os deístas reconhecem que a verdade ainda está por vir, ao contrário de religiosos e ateus que já encerraram a questão sobre ideias do passado. São pessoas de mente aberta e estão sempre prontas a mudar de opinião desde que existam argumentos e evidências convincentes para isso.
Não é fácil ser deísta. Somos uma minoria de pessoas com um pensamento e um ideal que difere dos conceitos de quem já formou sua opinião e de quem não se importa com nada e apenas segue os demais.
“As pessoas não querem ter a responsabilidade de entender, então trocam a compreensão pela fé e depois depositam essa fé em outras pessoas que dizem que entendem.
Acho que isso tem tudo para gerar uma relação predatória.”
Paul Stamets
Todos nós compartilhamos de um sentimento nato sobre uma origem primordial, um criador de tudo, uma primeira causa. Apesar de ainda estarmos engatinhando no conhecimento, nosso intelecto é capaz de identificar as pistas deixadas no universo por um poder de ordem superior. Mas esse mesmo intelecto também é capaz de perceber que tudo que acontece conosco tem origem em nossas próprias ações, que se multiplicam, se espalham e desencadeiam uma corrente de acontecimentos bons ou maus.
Tudo pode ser explicado à luz da razão. O que não pode ser explicado, ainda, é devido às nossas limitações, ao nosso grau de desenvolvimento, mas não há nenhuma evidência que justifique acreditar em magia ou fenômenos sobrenaturais que poderiam indicar uma intervenção ocasional do criador sobre nossas vidas. Essa crença infundada, provém unicamente de nosso ego, do nosso individualismo, que nos faz pensar que cada vida, isoladamente, tem um propósito por si só.
Crer em Deus não é a mesma coisa que acreditar que Deus existe. Crer em Deus é acreditar em alguma coisa que ele disse ou fez, e isso como sabemos não vem de Deus, mas sim de pessoas falando e fazendo em seu nome e com as mais variadas intenções. Acreditar que Deus existe, contudo, é reconhecer que as forças que permitem a vida no universo não são um acidente aleatório, mas sim a expressão da vontade de um criador.
“Toda variedade de objetos criados que representam a ordem e a vida no universo, só poderia acontecer pelo raciocínio intelectual de seu Criador original, a quem chamo de Deus.”
Isaac Newton
A conclusão, portanto, é que o deísmo concilia a razão, o intelecto e o livre pensamento, com a maravilhosa força que permite e mantém a vida em todas as suas expressões. O deísmo olha para o futuro com os olhos de uma criança curiosa, pronta para descobrir uma nova pista, aqui e ali, que nos aproxime cada vez mais, em entendimento, do Criador.
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