Revelação é a divulgação de um segredo. No contexto religioso, é a mensagem dada por Deus ao homem. A um homem em particular. Não a todos os homens.
Porque?
Será que Deus não é capaz de revelar sua mensagem coletivamente? Ele estaria limitado por algum motivo?
Contam que uma vez ele falou com um homem através de um arbusto em chamas e que produziu duas tábuas de pedra com sua mensagem.
Ora, se sua mensagem era para o conhecimento de todos, porque não falou pelo arbusto com todos? Porque não fez as tábuas na frente de todos?
As religiões, ditas reveladas, nasceram da mensagem de Deus, dada a apenas um homem. Daí para frente, a mensagem não é mais uma revelação, pois não vem mais de Deus.
Daí para frente, torna-se um relato, cuja veracidade repousa na confiança de quem ouve, em quem fala.
Imagine por um instante que, uma pessoa com grande influência, por exemplo um Youtuber com milhões de inscritos em seu canal, dissesse algo relevante para os seus seguidores.
Que motivos eles teriam para duvidar ou não acreditar?
Em seguida, um fã ou um apoiador comenta a fala do youtuber, de maneira a concordar com o que foi dito.
Pronto! A mensagem viraliza pelas redes sociais, e em segundos, um comentário despretensioso vira uma verdade absoluta.
Agora, imagine Moisés, falando aos judeus vagando pelo deserto, após fugirem do Egito. Ou Paulo de Tarso, falando aos judeus, perseguidos pelos romanos. Ou ainda Maomé, falando aos cidadãos de Medina, que estavam em guerra contra os de Meca.
Cada um tinha um propósito, e um público ávido por ouvir uma mensagem, que fosse capaz de reuni-los e guiá-los a salvo. O viés de confirmação viria logo depois. Um arrebatamento, uma ressurreição e, pronto novamente. A mensagem se espalha como fogo em capim seco.
Hoje temos as agências checadoras de notícias para ajudar quem busca a verdade. Mas a 3000, 2000 ou 1500 anos atrás, como tais fatos poderiam ser verificados?
Menos de 1% da população era alfabetizada. Não havia jornal ou qualquer outro meio de comunicação em massa. A informação se propagava de boca em boca. E elas tiveram centenas de anos para se propagar, passando de um momento para outro na história. De contexto em contexto e de propósito em propósito, até alcançar massa crítica, que é quando você não controla mais sua propagação.
Uma religião que nasce de uma revelação, ou, religião revelada, carece de prova, pois, aquele que disseminou a revelação não apresentou nenhuma prova de sua origem, e também não foi possível contestar ou verificar a verdade.
Não bastando essa constatação, cabe-nos ainda avaliar a discrepância entre cada revelação. Pois, se Deus é um só, e por algum motivo quis revelar-se apenas a um escolhido, é absolutamente lógico afirmar que a sua mensagem deve ser a mesma, não importando o escolhido.
Mas não é isso que se verifica. Então, estamos diante de três opções:
Deus não é o mesmo e existe pelo menos três Deuses, ou;
Os escolhidos não receberam uma revelação de um Deus único, ou;
Deus é único e não se revelou para nenhum escolhido.
Como deísta, guiado pela razão. Que consideramos um dom exclusivo e primordial para o nosso progresso. Sou forçado a concluir que: sendo Deus único, se fosse de sua vontade guiar a humanidade pela revelação de uma mensagem. Ela seria a mesma, dada ao conhecimento de todos e de forma irrefutável.
“Como pode alguém perceber a própria opinião sobre as coisas como uma revelação?
Este é o problema da origem das religiões: a cada vez havia um homem no qual esse fato foi possível.”
Friedrich Nietzsche
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