John Lennon já nos convidou a imaginar um mundo onde não exista paraíso, inferno e religião, mas é provável que a maioria das pessoas tenham ouvido, gostado e até cantarolado a canção, sem parar para imaginar, de fato, como seria um mundo da maneira como ele idealizava. Afinal, é apenas mais uma canção ideológica de um astro do roque.
Uma utopia? Não, não vemos como tal!
Um outro grande pensador também já refletiu sobre isso e disse:
Bertrand Russell
Na verdade, já podemos encontrar alguns sinais de que o mundo caminha para ser mais harmonioso e progressista, abandonando velhas ideias que não se sustentam mais, diante dos avanços do conhecimento humano.
Vemos um declínio muito acentuado das religiões em países desenvolvidos com baixa desigualdade social, vemos cada vez menos jovens adeptos das religiões tradicionais, vemos a grande dificuldade que as igrejas tem para recrutar novos sacerdotes, vemos populações de países fundamentalistas islâmicos abandonarem os dogmas religiosos por um comportamento mais racional.
Os líderes religiosos resistem, com alegações falsas de heresia e prenúncio de final dos tempos. Pode ser que seja o final dos tempos sim, mas para eles e suas religiões.
A principal ameaça que se ouvimos é que o homem está se afastando de Deus e que por isso as pessoas estão menos amorosas e fraternas. Uma falácia clássica, porque como nos lembra Mahatma Gandhi, Deus não tem religião. Deus não está associado a nenhuma religião. Nenhuma religião é ou foi proprietária de Deus, portanto, dizer que não ter uma religião é se afastar de Deus, apenas revela a fragilidade de suas convicções e segunda intenção por trás de seu discurso.
Para exercitar nossa imaginação, além de ouvir a música de Lennon, vamos destacar alguns aspectos de um mundo sem religião.
Um dos argumentos mais convincentes para um mundo sem religião é o potencial para uma maior unidade e tolerância entre indivíduos e nações. Ao longo da história, as diferenças religiosas têm sido uma fonte primária de conflitos, levando a guerras, perseguições e discriminação. A eliminação destas divisões poderia criar um mundo mais harmonioso, onde as pessoas se concentrariam na sua humanidade partilhada e não nas suas crenças religiosas.
Um mundo sem religião poderia encorajar uma maior ênfase no pensamento crítico e na racionalidade. Na ausência de crenças dogmáticas, os indivíduos estariam mais propensos a avaliar as informações com base em evidências e na razão, em vez de na fé. Esta mudança poderá levar a uma sociedade mais informada cientificamente, mais bem equipada para enfrentar questões globais prementes como as alterações climáticas, as pandemias e a pobreza.
Embora a religião muitas vezes forneça uma estrutura moral para os seus seguidores, ela também pode levar a conflitos morais. Diferentes interpretações religiosas podem resultar em dilemas éticos e na justificação de ações prejudiciais em nome da fé. Um mundo secular poderia promover um conjunto de valores morais mais universalmente aceites, baseado na empatia, na compaixão e nos direitos humanos.
Muitas tradições religiosas foram criticadas por perpetuar a desigualdade de gênero. Um mundo sem religião poderia levar a um maior progresso na igualdade de género, uma vez que os indivíduos deixariam de estar vinculados a doutrinas religiosas que subordinam as mulheres. Esta mudança poderia capacitar as mulheres para assumirem papéis de liderança e contribuírem de forma mais plena para a sociedade.
Ao longo da história, a religião por vezes entrou em conflito com as descobertas científicas e impediu o progresso. Um mundo sem restrições religiosas poderia permitir um avanço científico mais desimpedido, acelerando avanços na medicina, tecnologia e outros campos que beneficiam a humanidade.
A discriminação religiosa continua a ser um problema generalizado em todo o mundo, levando à exclusão e aos maus-tratos de grupos minoritários. Um mundo sem religião poderia reduzir significativamente essa discriminação, promovendo uma maior aceitação da diversidade e da inclusão.
Deus existe, e cada pessoa tem sua própria forma de expressar sua espiritualidade individualmente ou em grupo. Essa expressão, sem doutrinação e sem superstição é autêntica, verdadeira e natural. Livres da divisão imposta pela religião, pessoas poderão estar mais dispostas a participar em conversas abertas e respeitosas sobre as suas crenças, levando a uma maior compreensão e cooperação.
Concluímos, portanto, que é possível imaginar e querer um mundo sem religião, que representa a esperança de uma sociedade mais harmoniosa, racional e progressista. Um mundo assim poderia promover a unidade, a tolerância, o pensamento crítico, a igualdade de género, o avanço científico, a redução da discriminação e o florecimento de uma espiritualidade natural. Embora o conceito de um mundo sem religião seja altamente hipotético e difícil de alcançar, contemplar os seus potenciais benefícios pode inspirar-nos a trabalhar no sentido de uma sociedade global mais inclusiva e tolerante, onde os valores humanos partilhados tenham precedência sobre as divisões religiosas.
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